Guia Definitivo para a Legalização de um Carro Importado

Actualmente compensa mais adquirir um veículo novo no estrangeiro e legalizá-lo em Portugal, pois mesmo com todos os custos dessa operação o preço total é na esmagadora maioria dos casos inferior ao praticado por cá, muito por culpa da força que os lobbies da indústria automóvel possuem e a também não menos importante falta de coragem dos políticos para enfrentarem esse tipo de interesses. É a junção destes dois factores que provoca a subida incompreensível do valor de venda dos “quatro rodas” e afasta os compradores, sobretudo em momentos de crise como o que vivemos agora.

A importação de carros ainda continua a ser hoje em dia (e felizmente) uma opção extremamente vantajosa quando comparada com a aquisição em solo nacional, podendo mesmo significar uma poupança de até 55%! E desengane-se quem pensa que esta percentagem está errada… Basta que dedique algum tempo a pesquisar e verá que ir ao estrangeiro buscar o seu próximo automóvel pode ser uma excelente forma de não ficar com a sua conta bancária a zeros.

Mas como a melhor prova do que foi sublinhado no parágrafo anterior é demonstrar em termos práticos o que tem de ser feito para legalizar um veículo importado, explicamos desde já todos os passos que deve seguir para adquirir a sua nova viatura no estrangeiro e legalizá-la em Portugal, economizado milhares de euros pelo caminho.

O que fazer no país de aquisição?

Embora os valores e montantes a pagar no acto de compra de um carro além-fronteiras variem muito, inclusive dentro da própria União Europeia, existem determinados custos associados ao negócio, seja em que país for. Entre eles encontra-se o pagamento do IVA acrescentado ao preço de venda do veículo (atenção! Há vários sites que não indicam o peso desta taxa, mencionando apenas a importância relativa ao automóvel, pelo que deve ler atentamente as informações), registo de propriedade em seu nome, livrete do carro e o Certificado de Conformidade Europeu (COC), sendo estes três últimos documentos absolutamente fundamentais e sem os quais nenhum condutor pode andar nas estradas da UE.

A partir do momento em que os passos supra-descritos estão dados, boa parte do trabalho no país de aquisição fica concluído. Resta agora acertar os pormenores para o transporte do veículo para Portugal (realizado de camião ou em reboque) ou fazer um seguro temporário para que possa conduzi-lo você mesmo desde o estabelecimento onde o comprou até sua casa.

Na eventualidade de escolher o transporte deve ter em linha de conta que habitualmente a importância cobrada por uma empresa transportadora ronda os 500/600 euros (quantia média praticada actualmente, incluindo já o seguro obrigatório) e implica que aceite as datas que estejam disponíveis. No caso de optar por se estrear ao volante do seu novo carro terá de considerar aspectos como o combustível e desgaste do automóvel, a sua alimentação, alojamento (é aconselhável que faça várias paragens em longos percursos) e um seguro temporário em viagem que andará algures pelos 150/300 euros, tendo uma validade raramente superior a 30 dias, a não ser que deseje prolongar a sua duração.

O que fazer em Portugal?

A partir deste momento é que tudo se complica. O processo é demorado, burocrático e a quantidade de filas de espera e dias perdidos deixa muito a desejar, sobretudo quando se está num país com pouco mais de 10 milhões de habitantes com residência permanente. E como se não bastasse ainda se tem de juntar a esses factores o dinheiro que tem de se desembolsar para legalizar um carro usado adquirido no estrangeiro, bem mais do que em países como a vizinha Espanha ou a Inglaterra, citando só duas nações. Podemos mesmo chamar-lhe um assalto aos nossos bolsos.

Mas considerações à parte, eis o que necessita de fazer para que possa conduzir o seu novo veículo (nas suas mãos) em solo nacional:

  1. Deve deslocar-se a um agente autorizado para a inspecção do automóvel assim que este chegue a Portugal, pois sem “luz verde” do centro de inspecções fica impedido de legalizar o carro, sendo portanto imprescindível a vistoria ao automóvel para prosseguir com todo o processo de legalização, nomeadamente para cumprir a tarefa que permitirá a atribuição da matrícula à viatura;
  2. Tem de se dirigir ao Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres (IMTT) para requerer a homologação do COC, isto é, a passagem deste documento de título europeu para sinal português, algo que não é nada mais do que uma actualização de dados para que a Alfândega possa considerar o veículo como legal em solo nacional e o desbloqueie para transporte;
  3. Já nos serviços da Alfândega será necessário preencher a Declaração Aduaneira de Veículos (DAV) com todas as informações solicitadas e, em caso de dúvidas, pedir a ajuda de um funcionário que esteja habilitado a esclarecer questões relativas aos campos de ordem mais técnica, aqueles que geralmente suscitam mais confusão;
  4. Reunir os documentos que já possui da viatura e a DAV correctamente preenchida e entregá-los no balcão respectivo da Alfândega. Nesse momento ser-lhe-á indicado como pode saldar o Imposto Sobre Veículos (ISV), cujo pagamento se pode realizar na hora, em numerário ou através do multibanco, ou até um máximo de 10 dias úteis a contar da data em que foi pedido;
  5. Na sequência da homologação do COC, entrega da DAV na Alfândega e pagamento do ISV deve solicitar a matrícula do seu novo carro, o que pode fazer no dia em que se deslocar à Alfândega mas apenas se pagar de imediato o valor relativo a esse mesmo documento e à taxa automóvel;
  6. Depois de levantar a matrícula pode mandar produzir as chapas para serem mais tarde aplicadas no automóvel e, após a sua colocação, está tudo pronto para se escolher o seguro desejado. A partir desse momento pode conduzir o veículo com a DAV em seu poder, porque ainda que faltem documentos para que o processo fique concluído, a Declaração Aduaneira de Veículo já lhe permite viajar à vontade por um período de 60 dias desde a data em que foi emitido;
  7. O passo seguinte é voltar novamente ao IMTT e entregar todos os documentos que foram previamente requisitados na Alfândega para que aquela primeira entidade envie o seu processo para tratamento na Conservatória do Registo Automóvel, pois a emissão do Documento Único Automóvel (DUA) está dependente da apresentação da burocracia cumprida até à presente fase do demorado processo. Por isso, organize toda a papelada que foi acumulando no decorrer das várias tarefas que teve de realizar e não se preocupe caso leve o que não seja necessário porque mais vale excesso do que ter de lá voltar por falta de alguma coisa;
  8. A derradeira peça do extenso puzzle que é a legalização de um automóvel adquirido no estrangeiro é a solicitação do DUA junto da Conservatória do Registo Automóvel. Porém, entre o despacho do seu processo do IMTT e a entrada do mesmo na base de dados daquela conservatória há que esperar em média três ou mais semanas e só nesse momento poderá requisitar o Documento Único Automóvel, tendo então de se aguardar duas a três semanas após efectuado o requerimento para que o DUA chegue a sua casa.

O processo – que é uma verdadeira saga burocrática – não ficará completo depois de se realizarem os oito passos supra-expostos. No fim da concretização de todas essas tarefas tem ainda de se deslocar até uma repartição do Ministério das Finanças a fim de pagar mais uma taxa, o Imposto de Circulação, algo que no meio desta épica aventura será eventualmente o que fará com maior facilidade.

Como irá ter oportunidade de verificar pelo esforço, e sobretudo paciência necessária para as filas e resmas de papel que terá preencher, legalizar um carro importado em Portugal não é das missões mais simples nem tão pouco das mais rápidas. É um procedimento bastante demorado que envolve diversas entidades públicas, empresas do sector privado e até internacionais (o que é óbvio e inevitável, pois estamos a adquirir um produto importado…) mas bem que poderia ser muito simplificado se os governantes do nosso país tivessem a vontade e a coragem de enfrentar os lobbies e os grupos económicos em defesa do cidadão. No entanto, ambas as qualidades continuam ausentes no carácter dos políticos portugueses que têm o poder de o fazer. Resta esperar que esta situação mude no futuro.

Sendo este um artigo que pretende ajudar quem decida importar um veículo, terminar com uma mensagem positiva é indispensável. Assim, tenha em mente que embora deva empenhar-se nesta missão de dimensão quase heróica, o prémio final é um carro novo que foi escolhido por si, comprado a um bom preço e seleccionado de entre um universo substancialmente mais vasto do que a pequena indústria automóvel nacional. O trabalho será grande mas a recompensa será ainda maior.

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1.313 Responses to Guia Definitivo para a Legalização de um Carro Importado

  1. Alberto diz:

    Toyota Avensis D4D
    126 cv
    2000 cm3
    Ano de registo 2006
    Matrícula estrangeira
    Custos para legalizar?
    Obrigado

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    Excelente artigo.

  4. Sidney Costa diz:

    Bom dia, quero inicialmente parabenizar a qualidade deste Blog, e também ver se pode me auxiliar. Quero trazer um VW Kombi, ano 1998 do Brasil. Gostaria de saber o custo do ISV, IUC e IVA em Portugal.
    Recomendaram que eu a trouxesse para a Espanha e fizesse a primeira matrícula nesta e depois transferir para Portugal para não pagar IVA, mas resta então mais dúvidas:
    1- a Espanha não cobra IVA p este caso?
    2- Sou residente em Portugal, poderia fazer matricula na Espanha ?
    3- Se eu fizer a matrícula em nome de outra pessoa na Espanha / residente, para desalfandegar terei dificuldades ?

    Obrigado

  5. Jorge diz:

    Está espetacular, legalizado agora um carro importado. Decidi abreviar, pagando €175.00 para que me tratassem da papelada. Mesmo assim ainda fiquei com a inspeção, pagamento do ISV na alfândega e agora pedir o livrete no IMTT. Mas como referem vale a pena o trabalho. Parabéns pela excelente matéria.

  6. Pedro Fernandes diz:

    Boas quero levar um bmw 645ci 4.4L 333hp do ano 2004, quanto rondaria para legalizar, muito obrigado.

  7. Leonel Gomes diz:

    Bom dia.
    Agradeço que me digam o valor mais aproximado de legalização de um smart fourtwo de 2003 a gasolina. Obrigado

  8. Vasyl diz:

    Bom dia
    Quero importar Dodge Chelenger 3.6 de 2016 de país europeu
    Pode me disser quanto sai legalização
    Obrigado

  9. Emanuel diz:

    Boa noite. Sabe me dizer o custo de legalização de Mitsubishi Asx 2268cm . 153co2 ano 2015 mes 03 vindo da Suíça. Obrigado

  10. Marcelo Araujo diz:

    Boa tarde,

    Gostaria de importar duas kombis do brasil, uma de 1969 e outra de 1971.
    Gostaria de saber o custo do ISV, IUC e IVA em Portugal.
    Tem alguma empresa que consegue me auxiliar na documentação e importação?

    Obrigado,

  11. FERNANDO COELHO diz:

    Boa Tarde
    Fernando
    Gostava de importar um Ford Tourneo Connect 1.6 Ecoboost (110kw; 150cv) – (Cod. Motor: JQGA) novo para o meu filho que é deficiente e adaptá-lo em Portugal para deficiente e para colocar GPL. Este modelo de motor não é vendido em Portugal e a Ford não o importa. Á semelhança dos Táxis que são importados considerando que estão isentos de impostos, para deficientes também estão Isentos de IA e IVA? Qual o melhor país para fazê-lo (algum país com acordos paralelos de importação)?

  12. FERNANDO COELHO diz:

    Boa Tarde
    Fernando
    Gostava de importar um Ford Tourneo Connect 1.6 Ecoboost (110kw; 150cv) – (Cod. Motor: JQGA) novo para o meu filho que é deficiente e adaptá-lo em Portugal para deficiente e para colocar GPL. Este modelo de motor não é vendido em Portugal e a Ford não o importa. Á semelhança dos Táxis que são importados considerando que estão isentos de impostos, para deficientes também estão Isentos de IA e IVA? Qual o melhor país para fazê-lo (algum país com acordos paralelos de importação)? O meu filho é menor (7anos) anda de cadeira de rodas não anda nem falae não consegue assinar.

  13. FERNANDO COELHO diz:

    Boa Tarde
    Gostava de importar um Ford Tourneo Connect 1.6 Ecoboost (110kw; 150cv) – (Cod. Motor: JQGA) novo para o meu filho que é deficiente e adaptá-lo em Portugal para deficiente e para colocar GPL. Este modelo de motor não é vendido em Portugal e a Ford não o importa. Á semelhança dos Táxis que são importados considerando que estão isentos de impostos, para deficientes também estão Isentos de IA e IVA? Qual o melhor país para fazê-lo (algum país com acordos paralelos de importação)? O meu filho é menor (7anos) anda de cadeira de rodas não anda nem fala e não consegue assinar. Obrigado
    Cumprimentos
    Fernando

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